Música, memórias, sentimentalismo e Liam Payne
As trilhas sonoras que marcam lembranças especiais e uma coletânea de memórias anônimas de outros alguéns.
Para o cérebro, é muito mais fácil se lembrar de algo que foi importante para nós de alguma maneira do que simplesmente armazenar todas as situações que passamos....1
Semana retrasada, você deve ter ouvido falar da morte do Liam Payne, cantor e compositor que, além da carreira solo, também construiu carreira com a banda One Direction. Sem me estender muito, porque esse assunto provavelmente já foi bastante explorado, vou direto ao ponto: a banda One Direction foi trilha sonora da minha pré-adolescência e juventude, portanto receber essa notícia foi um baque, assim como foi pras outras milhares de fãs.
Como eu Laís-de-25-anos sou composta pela Laís-de-13, pela Laís-de-14, -de-15, e assim por diante, travei pensando em um monte de memórias. Fazia um tempo que eu não acompanhava a carreira atual do Liam, então minha mente se agarrou a todas as boas lembranças de 12, 13 anos atrás, quando acompanhar sua vida na banda era meu trabalho em tempo integral.
Aqui vai uma viagem pelo túnel do tempo da memória: você, adulta, revisita sua paixão pelos ídolos musicais da sua adolescência. Pôsteres, revistas, CDs, músicas baixadas no 4shared e salvas no mp3 (no meu caso, era um iPod Shuffle, daquele quadradinho que só tinha botões e um clip para prender na roupa - que serviria horrores hoje em dia pra correr na rua, mas sofreu sua extinção do mercado com avassaladora revolução das telas touch.) Tendo como obrigação única ir à escola de manhã, me sobrava tempo para passar a tarde no computador de casa navegando em sites e blogs de notícias da banda; no YouTube procurando todos os novos vídeos, gifs e entrevistas; fazendo edits, colagens e desenhos de fanarts; gravando videoclipes para concursos com as amigas; e por aí vai.

Lendo sobre, descobri que esse tipo de memória marcada por acontecimentos ou marcos pessoais se chama Episódica2 e comecei a pensar em quais outras músicas teriam marcado algum outro episódio da minha história.
Em 2014, o então recém lançado álbum Midnight Memories da One Direction tocava no meu fone de ouvido no avião quando fui pra Disney com a minha família, aos 15 anos. Sou levada direta e imediatamente pro meu assento na janela do avião, por uma sensação de alegria e coração aquecido, realizando um sonho com a minha família.
Quando criança, meu pai botava pra tocar e cantava a plenos pulmões o refrão “entra na minha casaaaaa, entra na miiiinha vida” de Faz Um Milagre Em Mim, de Régis Danese. Mesmo sem ser muito religioso, sempre teve muita fé.
This Love, do Maroon5, me lembra minhas melhores amigas da escola. Costumávamos dizer que era a trilha sonora da nossa série (alô, fãs de Paula Pimenta que devoravam Minha Vida Fora de Série e Fazendo Meu Filme).
Várias músicas de bandas de rock me lembram do meu primeiro namorado. E All Star, da Cássia Eler, me lembra do dia em que bati o carro a caminho da casa dele. Ele me acalmou e depois dançamos juntos essa música no quintal.
Quando meu avô por parte de mãe morou por algum tempo em casa, alguns bons anos atrás, ele sempre ligava o rádio pra ouvir música na janela do quarto. Lembro até hoje de uma tarde que tocou Tudo Isto é Amor, de Claudette Soares com Dick Farney e eu achei tão linda, porque me lembrou também da minha avó.
E nem é preciso ir tão longe na linha do tempo. Acorda, Pedrinho, de Jovem Dionísio, hit recente que dividiu a internet entre amor e ódio, foi trilha sonora de uma viagem muito especial que fiz ao Maranhão em 2022, com um grupo de meninas desconhecidas, e me leva direto pras dunas dos Lençóis Maranhenses e pras amizades que fiz ali.
À primeira vista, de Chico César, me lembra de ir ao Tranquilo com a minha amiga, um rolê especial de música ao vivo que acontece às segundas-feiras aqui em São Paulo, com atrações e lugares surpresa toda semana, divulgados apenas no dia.
A beleza é você menina, de Bebeto, me lembra a playlist que um ex-ficante fez pra mim (e depois apagou, então não tenho como conferir se essa minha memória tá certa hahah).
Enfim…
Pensando nisso, e tentando buscar alguma forma de conforto com todo esse sentimentalismo causado pelas notícias recentes, abri uma caixinha de perguntas no Instagram perguntando pros meus singelos seguidores: “Que música te lembra alguém? Quem?”. As respostas, junto com algumas minhas, reuni nessa playlist:
Ela é um agradecimento por quem confiou em compartilhar comigo algumas lembranças e é também uma coleção de memórias anônimas, que nos levam mais perto de viagens especiais, pessoas queridas, familiares, amigos, amores e até dores. E não só isso, mas eu sempre acreditei que as músicas falam as coisas que a gente às vezes não consegue elaborar, só sentir. Te convido a ouvir e imaginar coisas como essas:
“lembra das minhas viagens em família”
“me lembra de quando eu me toquei que meu ex-relacionamento tinha acabado, e que há coisas no mundo que eu não posso forçar.”
“meu pai, ele tocava todo dia tentando aprender ela”
“me lembra meus pais e me faz chorar”
“essa música me lembra de quando conheci meu namorado em 2016”
“me lembra de uma viagem pra praia com a família”
“me lembra minha amiga que foi obcecada com essa música”
Sei que esse post começou com meu sentimento de luto por um artista querido da juventude. Ainda lamento muito e torço pra que ele tenha sido espiritualmente acolhido, assim como desejo forças e luz pra sua família e amigos pra lidar com a dor.
Tal qual outras pessoas que ocupam lugares diferenciados na minha memória, ele sempre terá feito parte da minha história e marcado minha mente de lembranças e sentimentos, no caso, deliciosos e nostálgicos.
É esse um dos poderes mais lindos da música e da arte: criar marcas. Rodear algumas das nossas sinapses neurais de forma diferente das outras, únicas, ao associar na memória uma história, um som, um cheiro.
Por fim, quais músicas também te lembram de alguém? Quem sabe eu continuo coletando memórias anônimas pra essa playlist.
“Por que lembramos de algumas coisas mais facilmente que outras?”, por Flávia Santucci para a UOL, disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/05/20/por-que-lembramos-de-algumas-coisas-mais-facilmente-que-outras.htm?cmpid= (Acessado pela última vez em 28/10/2024.)
“Recordar é viver?”, por Giulia Granchi para a UOL, disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/reportagens-especiais/como-funciona-a-memoria-como-melhorar-a-memoria-e-como-criamos-lembrancas/#page6 (Acessado pela última vez em 28/10/2024.)